domingo, 31 de março de 2013

FANTASIA INFANTIL



 Quem não cresceu meio a ilusões e fantasias mirabolantes? Que criança nunca creu em papai Noel, em coelhinho da páscoa, bicho papão, etc. Eu não fui diferente, o problema é que minha imaginação foi sempre interrompida pela realidade. Quando um mundo colorido se erguia na minha cabeça outro mundo preto e branco destruía minha alegria inocente. Os ovos de páscoa por exemplo, me extasiavam tanto que eu gastava uma semana pra comer um ou dois que ganhava. Era tão bom olhar aqueles ovos, imaginar como ele foi criado, porque era tão doce, e... como eu podia sentir o cuidado com que o coelhinho branco os chocou pra mim.
 O fetiche-mor, meu sonho de consumo, foi com certeza o Kinder ovo de páscoa. Seus comerciais na TV eram os melhores, aquelas crianças felizes se lambuzando de chocolate, e o melhor, além de come-los você ainda ganhava um brinquedo que poderia durar pra sempre. Que legal. Cheguei a pedir pra alguns adultos, mas essa marca era uma das mais caras. Certa páscoa juntei dinheiro suficiente pra comprar uns três do grande, porém eu não queria assim, só tinha graça se alguém me desse e isso custou minha infância toda, nunca ganhei.
 Pouco tempo atrás, aos dezessete anos, fizemos um amigo chocolate na empresa que eu trabalhava. É uma brincadeirinha meio chata, resume-se em dar e receber ovos de páscoa, abraçar uns aos outros e tirar fotos. A melhor parte é quando chega nossa vez de ganhar, claro. E finalmente, o fantástico, absoluto, supremo e digníssimo presente que ganhei foi, acreditem, o Kinder ovo gigante. Faltaram-me palavras, mal havia entrado na adolescência e já queria voltar a ser criança, corri pra casa, estava ansioso pra degustar meu sonho primeiro.
 Abri cuidadosamente aquela embalagem brilhante, segurei com cuidado para não quebrá-lo e tasquei lentamente. Mordia pra lá, pra cá, cá, ecááá. Eu amei isso uma vida inteira? Como fui capaz, leite em pó mal misturado com açúcar e coberto por uma fina capinha de chocolate. Desencantei totalmente. O Kinder foi apenas uma fantasia infantil, certamente se tivesse comido quando criança, teria aprendido a amá-lo por força do encanto, no entanto... O eu adolescente não sentiu mágica alguma, e sabor francamente ele não tem. Desculpem-me os grandes iludidos. É que quando a gente cresce nossas exigências são mais fundamentadas.

Neri, Vinícius 31 de março de 2013

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