terça-feira, 12 de março de 2013

Minha coleção de lágrimas

 Arrumando a bagunça do meu quarto encontrei uma caixinha azul que havia perdido há muito tempo. Trata-se de um simples depósito de bens sentimentais, um espaço onde guardo lembranças boas e ruins, que estão em cartas, bilhetes, fotos. Lá conservo também coisas incomuns, objetos diversos, que requerem uma boa dose de loucura para se ter.
 Quando me deparei com meus desejos realizados e ainda assim num imenso vazio, sofri terrível dor. Não era questão de saudade, era falta mesmo. Estava a dois anos longe da família e dos amigos mas não era esse tipo de falta que me doía. Sondei meus sentimentos à procura de uma boa resposta para a tal inquietação. Por fim, descobri que tudo que eu queria era “não ter”, ou melhor, eu queria continuar iludido à respeito dos meus sonhos. Não queria tê-los realizados ainda, descobrir a futilidade deles foi cruel. Preferi a falta.
 Foi aí, nesse período de melancolia que eu resolvi colecionar lágrimas. Pela frequência e petulância que me visitavam já não tinha controle sobre elas. Então resolvi acolhê-las num vidrinho e guardá-las. 
 Hoje, quase de bagunça arrumada, abri a caixinha azul e lá estava o recipiente que abrigara minha dor. Senti raiva, pois quando pensei em ver o quanto chorei, quando quis medir minha antiga dor, vi que as lágrimas haviam evaporado. E agora, como poderei saber o quanto sofri?


Vinícius Neri

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